Altos preços do cacau não ajudam produtores africanos, que abandonam atividade
- Choco News

- 19 de mar.
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Falta de incentivo, envelhecimento dos cacaueiros e mudanças climáticas afetam produtores de baixa renda na África
Por Marcos Fantin — São Paulo
19/03/2025 11h17

Desde a disparada dos preços do cacau, há mais de um ano, os produtores africanos - responsáveis por mais de 70% da oferta global da commodity - não têm colhido os benefícios dessa alta. Problemas estruturais nas pequenas propriedades africanas e questões fundiárias são os principais empecilhos, afirmou Chris Vincent, presidente da World Cocoa Foundation (WCF), durante o Partnership Meeting, evento mundial realizado em São Paulo nesta quarta-feira (19/3).
"Precisamos aumentar a produtividade e a rentabilidade para aqueles produtores de baixa renda, porque o declínio na produção não foi compensado pelos preços altos", disse Vincent. Enquanto no Brasil, o momento é encarado como de “bonança” pelos valores pagos aos produtores, na África é notada o abandono da atividade. Entre as razões, estão “a falta de incentivo, o envelhecimento dos cacaueiros e os impactos das mudanças climáticas”, complementou o diretor da WCF.
O secretário- executivo da Iniciativa Cacau Costa do Marfim-Gana (ICCIG na sigla em inglês), Alex Assanvo, reforçou que os altos preços não refletem o que chega aos produtores. Os dois países são responsáveis por 60% da produção global de cacau. Além disso, o secretário destacou que a África, mesmo com toda força produtiva, tem pouco acesso ao chocolate.
"Apesar de todos os esforços, nós não consumimos chocolate. Não estamos no nível da Alemanha, Holanda e até mesmo do Brasil. Produzimos algo que é exportado. Se quisermos estimular a produção, precisamos ser recompensados, os produtores precisam ganhar mais", destacou Assanvo.

Segundo o secretário, de 2023 para 2024, o preço pago ao produtor aumentou 40%. “É um preço alto, mas pode ser melhor”. Nos países africanos, todo o cacau é gerido pelos governos federais, que repassam cerca de 70% das vendas aos cacauicultores, e, em contrapartida fornecem insumos, sacarias e mudas.
Segundo ele, não é que o agricultor não esteja recebendo o suficiente, mas as formas de negociação não têm beneficiado os produtores. Assanvo explica que o cacau é vendido antecipadamente. “Portanto, se fizermos um contrato hoje, é para o cacau do próximo ano. Os preços já não são os mesmos do ano passado, e é por isso que eu disse que o mecanismo de mercado não está favorecendo a África Ocidental”.
O marfinense e produtor de cacau, Jean Marie Koffi Kouadio, enxerga a instabilidade do setor como principal desafio para os agricultores. “Como fazendeiro, preciso saber o preço do cacau nos próximos anos para poder fazer um planejamento de investimento na minha fazenda”. Segundo ele, há um movimento de abandono da atividade por parte dos jovens, diante das incertezas de preços e ganhos. “Até conseguimos um bom preço na última safra, mas não sabemos como será daqui para frente, o que torna o setor inseguro”. Kouadio cultiva uma área de 35 hectares de cacau.

Neste cenário, Marcello Britto, secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal, defende que a abordagem mais regenerativa da agricultura seja a saída para o setor do cacau. “Essa pode ser a chave da longevidade da produção e da rentabilidade dos produtores.
É em momentos de crise como o atual, em que não conseguimos prever nem como serão as próximas semanas, que as grandes transformações nascem”.
Em meio às quebras de produção na África, o Brasil está inserido em um cenário de responsabilidade cada vez maior, acredita Pedro Neto, secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura. "O Brasil teve grande relevância na produção de cacau e agora estamos retomando o protagonismo. É uma cadeia de elevado valor florestal, inserida em biomas especiais, especialmente na Mata Atlântica e Amazônia, e agora também no Cerrado".
Para o líder global, Chris Vincent, o encontro no Brasil é estratégico. "Há muito o que aprender com o Brasil enquanto líder da agenda climática, país-sede da COP 30 e uma potência agrícola mundial".









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