Pará aposta em miniflorestas com cacau e ipê para recuperar áreas improdutivas
- Choco News

- 27 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Após cinco anos, o consórcio de espécies nativas pode retornar ao produtor até R$ 30 mil
Por Isadora Camargo e Marcos Fantin — Paragominas (PA)
27/05/2023 14h50

Em Paragominas (PA), a combinação de cacau, açaí e banana é mais do que uma vitamina. As culturas são associadas às arvores de Ipê em um sistema agroflorestal (SAF) para recuperação de áreas improdutivas. O "arranjo" pode render de R$ 24 mil a R$ 30 mil ao produtor a partir do quinto ano de implementação.
"O carro-chefe é o cacau, porque é uma cultura que tolera sombra e já tem essa prerrogativa de trabalhar com outras plantas", explicou à Globo Rural, o engenheiro agrônomo Abimael Oliveira, durante a Show Agro, neste sábado (27/5).
O sistema pode ser implementado para recuperar áreas agrícolas improdutivas ou pastagens que foram abandonadas, mas que ficaram com mata rasteira. O SAF ajuda, ainda, a criar um microclima nativo, refletindo na sustentabilidade dos plantios e sendo uma opção para futuramente gerar créditos de carbono.
O sistema agroflorestal do cacau começou a ser difundido na cidade em 2018, por iniciativa da prefeitura local, quando ainda não havia zoneamento para a cultura.

O objetivo é proteger as espécies nativas e incentivar a agricultura familiar a gastar menos e ter maior rentabilidade, já que se aproveita tudo das espécies. O açaí, além de ser sombra protetiva para o cacau, tem um caroço que pode ser utilizado como adubo no plantio.
O cacaueiro e o açaí começam a dar frutos depois de três anos, em safras que acontecem respectivamente de maio a agosto e depois de agosto a novembro. A banana, que pode entrar para fazer sombra ao cacau, como o açaí, gera renda depois de oito meses.
Na proposta, planta-se o ipê para gerar uma extração de madeira legal após 30 anos, numa espécie de "poupança viva". "Depois de 30 anos, que se retira a árvore, cujo passivo ambiental é bem pequeno, porque ele será plantado em um espaçamento muito grande, em torno de 21 a 30 metros de distância um do outro", detalha Oliveira.
Mesmo com o tempo que se leva para um fruto ou outro começar a produzir, fazendo o arranjo de plantio com espaçamento adequado, entre uma cultura e outra, o produtor pode plantar mandioca, milho, arroz ou feijão para custear a implementação do sistema nos primeiros dois anos e garantir renda inicial.
— Abimael Oliveira, engenheiro agrônomo
"Se eu plantar só o açaí, só teria rendimento a partir do terceiro ano, por exemplo", pondera o engenheiro agrônomo.
Atualmente, a população rural de Paragominas é de cerca de 23 mil pessoas. “A gente estima que deva ter cerca de três mil famílias e 15 mil agricultores familiares. Tem muita gente que mora no campo, mas não é agricultor familiar”. O último levantamento da prefeitura mostrou que 54 famílias tinham SAF implantados em sua região.
Sustentabilidade
Oliveira acrescenta que, embora seja possível diversificar as culturas e os arranjos do SAF, o açaí e cacau juntos são perfeitos porque geram um baixo impacto ambiental e não exigem investimentos robustos para controle de pragas. "O custo com o sistema é muito baixo, porque ele tenta imitar a diversidade que existe na natureza. É um agroecossistema, muito indicado para as áreas da Amazônia", ressaltou.
Além disso, o sistema pode gerar créditos de carbono no futuro, porque preserva a floresta em pé. "É uma mini-floresta com diversificação. Há a extração de frutos, mas as árvores ficarão lá", disse.
O SAF facilita o processo de licenciamento ambiental para extração da madeira do ipê depois das três décadas. No lugar da árvore, é possível usar castanha do Pará, outra espécie nativa do Estado.









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