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Produtoras de cacau do Espírito Santo planejam agroindústria

Esse é o próximo passo de 65 agricultoras familiares que organizaram coletivo em 2019 para melhorar lavouras e sair da invisibilidade

Por Eliane Silva — Ribeirão Preto (SP)

08/03/2025


Coletivo Mulheres do Cacau começou em 2019 — Foto: Divulgação
Coletivo Mulheres do Cacau começou em 2019 — Foto: Divulgação

Depois de se unir, aprender a melhorar seus tratos no cacau, se inscrever em vários projetos em busca de recursos e conhecimento, um grupo de agricultoras familiares de cacau no Espírito Santo que decidiu sair da invisibilidade está pronto para o próximo passo: criar uma agroindústria coletiva para produzir nibs de cacau, cacau em pó e manteiga de cacau.


A história do coletivo Mulheres do Cacau, que iniciou neste ano a busca pelos recursos para o novo projeto, começou em 2019, em plena pandemia.


“Eram as mulheres que faziam quase tudo na lavoura do cacau, mas ficavam na sombra dos maridos, que vendiam as amêndoas e eram considerados os donos da roça. Decidimos, então, buscar ajuda para melhorar nossos tratos na lavoura, na fermentação, na secagem e armazenamento”, diz Matilde Aparecida Garabelli Venturin, presidente da Associação Mulheres do Cacau de Linhares, uma das que compõem o coletivo formado atualmente por 65 cacauicultoras familiares.


Matilde Aparecida Garabelli Venturin, presidente da Associação Mulheres do Cacau de Linhares — Foto: Divulgação
Matilde Aparecida Garabelli Venturin, presidente da Associação Mulheres do Cacau de Linhares — Foto: Divulgação

Uma extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) foi quem sugeriu a formação do grupo e a divisão em quatro associações baseadas nos municípios de Linhares, Colatina, Rio Bananal e Santa Teresa, junto com São Roque do Canaã.


O grupo de Linhares tem 17 mulheres associadas. A presidente conta que ela e as outras mulheres aprenderam a cuidar da lavoura, desde o trato da terra, a forma de colher, de quebrar o cacau, fermentar e armazenar.


Atualmente, Matilde tem roça de 17,6 hectares irrigados a pleno sol, com 1.100 plantas em produção, já plantou mais 600 mudas em consórcio com café e frutas e vai plantar mais 600 no sistema agroflorestal. Ela conta que cuida sozinha da poda e desbrota e tem a ajuda do marido na colheita e na adubação.


“A mulher agricultora familiar é responsável pela maior parte dos produtos que chegam à mesa das famílias, tanto para consumo quanto para comercialização. A associação busca constantemente parcerias para fortalecer esse trabalho das mulheres”, ressalta Matilde.

A montagem da pequena agroindústria, diz, pode ser viabilizada com um projeto da Petrobras que visa beneficiar comunidades da região de atuação da petrolífera no Estado.


Coletivo Mulheres do Cacau — Foto: Divulgação
Coletivo Mulheres do Cacau — Foto: Divulgação

Cronologia do grupo


No primeiro projeto, as Mulheres do Cacau conseguiram recursos para instalação de cinco unidades demonstrativas com cocho e estufa para a produção de amêndoas de qualidade, fizeram cursos, participaram de dias de campo e receberam assistência técnica.

Nos anos de 2022 a 2023, integraram o projeto Cacau 2030 organizado pelo Cocoa Action Brasil e coordenado pelo Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), que rendeu a elas várias capacitações, intercâmbios, aquisição de mudas subsidiadas e a instalação de uma unidade demonstrativa na propriedade de Ana Paula Ramos, em Linhares, às margens do rio Doce.

Nesse projeto, as agricultoras receberam mudas novas e mais resistentes à praga vassoura-de-bruxa para plantio mais adensado com irrigação, além de aprender manejo correto de podas nas plantas mais velhas para não cessar a renda enquanto as novas não produzem. O plano é ter uma lavoura renovada em três anos, eliminando as plantas velhas, algumas delas do sistema cabruca com até 70 anos.

João Eduardo Avila, coordenador de Projetos e Serviços do Imaflora em ESG e Cadeias Agropecuárias Responsáveis, conta que o coletivo das Mulheres do Cacau se destacou tanto no Cacau 2030 pela participação ativa, organização e demandas apresentadas que o Imaflora decidiu continuar o trabalho com elas no ano passado por meio de recursos do seu Fundo Social.


Uma das demandas das mulheres era ter um diagnóstico individual e coletivo do grupo, com foco em gênero, questões familiares, produtivas, desafios e expectativas. O trabalho de campo foi concluído e os resultados vão ser apresentados a elas para definir quais atividades querem desenvolver no curto, médio e longo prazo.


O diagnóstico levantado pela engenheira Bruna Venturin, consultora do Imaflora no Estado, apontou a área total de cacau das associadas. São 34,30 hectares em Linhares, que produz 1,546 arrobas por ano; 27,92 hectares em Rio Bananal, com 205 arrobas; 19,25 hectares em Colatina com 301 arrobas e 15,01 hectares em Santa Teresa e São Roque do Canaã produzindo 139 arrobas.

Segundo Bruna, a produtividade média é muito variável, com alguns sítios chegando a 150 arrobas por ano e outras lavouras velhas ou em processo de renovação produzindo muito pouco. A média das áreas de cultivo do cacau nas quatro regiões não chega a 2 hectares.


Ávila afirma que, além da criação da agroindústria coletiva, as agricultoras mostraram interesse em aprender como aumentar a produtividade e ter acesso ao mercado, como implantar práticas regenerativas e agricultura orgânica em várias culturas, já que as propriedades familiares têm outras culturas como café, flores, horta e criação de pequenos animais.

Nos próximos anos, o Imaflora pretende ajudar as Mulheres do Cacau a buscar parceiros e recursos para dar seguimento às suas demandas.


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